segunda-feira, 19 de março de 2012

gay e pai


Eu sempre quis ser pai. Pelo menos eu acho que essa vontade é genuinamnete minha e não que alguém tenha implantado na minha cabeça pelas expectativas de cumprimento do papel de homem. Digo isso porque somos criados com a idéia de que, em algum ponto das nossas vidas, temos que nos casar e ter filhos. Olhando pelo lado biológico eu creio que esse é o sentido da vida, traduzido na perpetuação da espécie. Felizmente nós humanos nos diferenciamos do resto dos animais, seja pelo trabalho ou pela consciência, e temos a oportunidade de escolher como nos comportar.
Nossos pais são a primeira fonte dessas aspirações que nos são passadas. Eles tem seus planos, querem a continuação do sobrenome da família, querem que nos casemos e querem netos... Não que estas coisas sejam ruins, mas e quanto ao que queremos?
Depois dos pais vem o resto da família, amigos e mais. Alguns tios, muito inapropriados, sempre me perguntam em reuniões familiares: “Já está namorando?” ou “Vai virar padre?”. Uso a desculpa de que estou sempre muito ocupado mas esse tipo de pergunta realmente incomoda. Especialmente a do padre, chega a ser ofensiva. Parece-me que eles tem uma enorme preocupação em saber da minha vida amorosa/sexual. Coisa de interior, ou de família mesmo. Tenho medo de algum dia que eu estiver muito irritado eu fale que tenho uma vida sexual muito ativa para ser padre, ou que deixe bem claro no que estou interessado. Só de pensar nessas situações enquanto escrevo já fico exaltado.

Não só tios. Tenho um primo também que sempre me pergunta se estou namorando. A última vez que ele perguntou, fiquei irritado e respondi que se eu quisesse namorar qualquer lixo eu poderia, em referência a namorada dele. Também disse que eu preferia achar alguém que valesse a pena. Acho que ele se sente intimidado pelo fato de eu ter crescido como pessoa, saído do interior e com grandes perspectivas na vida enquanto ele continua na mesma vidinha que o interior oferece, e usa o fato de ele estar namorando e eu não para se sentir melhor. Divagando...
Na minha publicação anterior me referi à garota que eu gostava e tinha planos de ter filhos com ela. Eu me dou muito bem com crianças, elas alegram o ambiente, deixam a casa menos entediante. Antes de me afirmar como homossexual eu realmente queria constituir uma família, sempre tive esse plano, tanto que fiz minha última tentativa com ela. Mas e agora?

Estou passando por um momento de reflexão em relação a isso. Se sou gay, os únicos meios de eu ter filhos são por adoção ou clonagem. Ou ainda me envolver com uma mulher estritamente para reprodução. Mas isso é chato, tanto para os pais quanto para as crianças.
Como no Brasil clonagem e adoção por casais gays ainda são ambos proibidos, minhas possibilidades são baixas. Tenho certeza que eu poderia oferecer um lar melhor e mais oportunidades a essas crianças do que muitos casais héteros, desequilibrados e abusivos. Ainda entrarei na militância para que eu possa ter os mesmos direitos que o resto da população, de casar e ter filhos, seja qual for o meio. Mas não por enquanto, o blog já me toma tempo demais...
Também temo pelas ações da sociedade enquanto estiver criando um filho como um casal gay e como isso o afetaria. Sei que as pessoas podem ser bastante cruéis, mas também sei que se eu não fizer minha parte, a sociedade nunca vai mudar. Por outro lado, também sei que crianças gordinhas, de uma raça diferente, com alguma característica como nariz feio ou orelhas grandes também são vitimas de muitas piadas. Sendo assim, piadas são inevitáveis, independente da orientação sexual dos pais.
Está para ser votada no Congresso a distribuição de um kit para crianças do ensino fundamental para a educação e tolerância em relação à homossexualidade. As crianças a princípio não tem preconceitos, mas o que já esta acontecendo é uma corja de pais conservadores dizendo que este kit é um estímulo a homossexualidade. Até me arrepio quando penso nesses pais.
Em toda Europa ocidental, Canadá e em alguns estados americanos , a adoção por casais gays já é legal. Imagino se algum dia chegaremos a esse nível de tolerância. No Brasil também há alguns casos, mas são tão poucos e não há uma lei que defina isso. Esses casos sempre ganham grande repercussão quando acontecem.
Um vídeo muito interessante que eu vi há um tempo sobre a conscientização da homossexualidade mostrava um casal gay com um filho, já adulto, e muito envergonhado em dizer que gostava de garotas. A mensagem é que filhos de casais gays não se tornam necessariamente gay.
Enfim, aos senhores pergunto se vocês tem vontade de ter uma família, filhos ou coisa do tipo. Sempre achei essa idéia de ser gay e ter filhos um pouco estranha, mas estou revendo meus conceitos.
Abçs a todos, e ótima semana. ;)


fonte:A vida no armário

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