Passando uns poucos dias na casa dos meus pais e minha mãe, como de costume, estava assistindo àquela novela com nome engraçado, 'Insensato Coração'. Carma ou não, vi exatamente o episódio em que um carinha gay é atacado por um pitbull neandertal.
Ouvi muitos comentários sobre como o tema gay está sendo abordado pela novela, a maioria positivos. Também vi na Veja da semana passada que os chefões da Globo pediram aos autores da novela que diminuíssem a ênfase na história. Dizem que estavam colocando o tema como prioridade na novela e chocando o público, que foi reportado por pesquisas de percepção de imagem da emissora. Eu divago, porém.
Então, eu tenho minhas dúvidas sobre a necessidade de sair do armário para os pais. Ainda mais em estágios recentes desse tipo de vida, me soa muito desnecessário, desgastante e constrangedor. A não ser que os pais sejam daqueles tipos modernos que não se importam com isso e que deixam o ambiente seguro para que isso ocorra.
Em muitos casos, porém, a pressão é tanta para que filho namore que é melhor contar e evitar um desgaste maior com falsificações e fingimentos (sem falar do custo com viagra). Quando o peso dos riscos é favorável, talvez seja conveniente contar para acabar com essas cobranças e poder ser você mesmo em casa.
Um leitor comentou comigo que em um dos episódios da novela a mãe expulsa o filho de casa por ele ser gay. Esse leitor também comentou sobre a reação da mãe dele, ao ver a cena junto ao filho:_Se fosse filho meu, eu faria pior.
Eu sinceramente não sei como lidar com esse tipo de pais, não tenho experiência nesse assunto. Aqui em casa, o máximo que acontece são piadinhas, risadas e deboche, não palavras de ódio e/ou ameaças. Mas podemos refletir.
Antes de tudo, vale lembrar que o amor de pais com os filhos é incondicional. Não importa o que eles dizem ou façam num momento de raiva, ainda te amarão para sempre. A dependência emocional que temos neles ainda é menor que eles tem em nós.
Voltando aos pais do leitor em questão, não vale a pena contar. Deixe que eles descubram por eles mesmo, isso acontece eventualmente e evita um drama maior. Não que eles vão te pegar vendo pornografia gay ou aos beijos com outro homem (o que pode acontecer também), eles só vão ligar os pontos e deduzir. Mas perceba que esconder pode ser tão desgastante quanto contar, dado o estresse em mentir e fingir a todo momento. Pode ser interessante contar se essa situação está criando um abismo na relação com os pais. Temos a tendência a sempre considerar o pior lado das coisas e agir baseado nele. Será que por um momento também não podemos considerar a possibilidade de uma reação acolhedora e aliviante? Na maioria das vezes esquecemos essa possibilidade que pode trazer tanto conforto.
Também, alguns pais estão mais preocupados com o que as pessoas vão pensar do que incomodados pelo fato em si de o filho ser gay. Um pouco de proteção também, eles sabem que o mundo é cruel para nós. Esses dois pontos podem ser a principal causa da resistência de alguns pais em aceitar o filho. Mesmo se a opinião do resto da família ou de pessoas da comunidade não importar para nós, ela pode importar para nossos pais. É aí que começam os problemas.
"Eu não criei um filho para ser 'viado'". É de partir o coração quando ouço essa frase, mas eu sou um desses 'viados' e posso afirmar que tive os melhores exemplos e a melhor educação que podia ter. Existe arma melhor para enfrentar um ultra-homofóbico (inclusive pais) que ver um gay como uma pessoa melhor e com mais honra do que muitos 'héteros normais' que ele conhece? Seja esse gay um estranho ou você mesmo, deviam as pessoas, inclusive nossos pais, enxergar nossa sexualidade como o que ela realmente é: apenas um detalhe que não define caráter.
Então, leitores, quais as ideias sobre essa relação com os pais? Contar é necessário? Se alguém contou, como ocorreu e quais as reações?
Um abç e bom fds.



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