segunda-feira, 19 de março de 2012

privilegiados, a priori

Desde que a última enquete foi lançada, o número de pessoas que escolheram fazer o tratamento para mudar a sexualidade manteve-se próximo de 47%.



12% estão indecisos. Portanto, no pior dos casos, 59% escolheriam poder mudar. Vamos arredondar esse número para 60% e chamar de maioria para facilitar a conversa =)


A pergunta da pesquisa já infere que se sentir atraído pelo mesmo sexo é uma condição, e não uma opção. Os leitores sabem e já foi falado aqui muitas vezes, que por mais que tentemos mudar essa condição sempre falhamos. Podemos tentar esconder e reprimir e ter namoradas para disfarce, mas nunca nos sentiremos completos e teremos a sensação de uma vida vazia.


Eu posso imaginar todos os conflitos que os leitores que responderam 'sim' tem. Eu passei por isso e tenho a credibilidade para dizer que é totalmente desnecessário. Claro que digo isso com a cabeça de hoje, mas também é uma cabeça mais madura e que tem uma ideia melhor de 'mundo'.


Divagando um pouco, apesar de eu ainda estar no armário, eu já tenho uma percepção totalmente diferente do que significa 'estar' atraído pelo mesmo sexo. Mas 'estar' atraído denota uma condição temporária, não é como 'ser' atraído pelo mesmo sexo. A sexualidade humana é tão diversa que até mesmo eu, com meu medo terrível por vaginas, as vezes me pego fantasiando com alguma mulher. Não creio que sejamos de um dos lados exclusivamente, mas dos dois em diferentes níveis. Alguns tem o nível de atração pelo sexo oposto quase inexistente, ou pelo mesmo sexo, mas nunca lhe é vedada a atração por ambos os lados.


Muitas das vezes, os sexualmente diversos já passaram por tantos conflitos na vida que eles se tornaram pessoas mais fortes e interessantes, com uma visão do mundo bastante independente e diferente das que estamos acostumados a ver com a maioria das pessoas 'normais'.


Pelas minhas experiências, hoje eu não mudaria minha sexualidade para agradar quem quer que fosse ou para ter uma vida mais fácil. Mudar é desistir, e desistir, bem... não é bom.


Como seria a resposta dos leitores que responderam 'sim' se a percepção de homossexualidade não fosse maliciosa? Eu, particularmente, acredito que quem nós somos não devia ser função do que a sociedade espera que sejamos. Creio ser esse o maior motivo que leva os leitores a responderem 'sim' mas não é possível ser feliz assim. O errado não está em nós, mas no mundo, apesar de que certo e errado são conceitos tão abstratos e subjetivos que é difícil falar que o mundo está errado.


Muitas das pessoas mais interessantes e inteligentes que eu conheci são sexualmente diversos e não faz sentido não querer pertencer a tal grupo. Talvez porque pessoas mais instruídas e mais inteligentes tem a capacidade de perceber que a sexualidade é diversa e se permitir? Divago, tendenciosamente... mas faz um pouco de sentido, não? ;D

É um grupo nobre e me sinto privilegiado em fazer parte dele.


Privilegiado porque percebi em tempo que ser gay é bom e pessoas gays são boas. Não é nada como passaram a vida inteira me dizendo que seria: monstros sem coração, sem alma e sem pudor. Privilegiado por poder experimentar formas de prazer que muitas pessoas passarão a vida toda sem saber como é. Também porque descobri que o sentimento entre dois homens é tão intenso e verdadeiro quanto o que eu esperava com uma mulher, mas com a vantagem de não ter as cobranças e pressões no relacionamento que o machismo impõe na parte masculina do casal.


Eu concordo totalmente com Platão na sua descrição de amor. Este só é alcançado por meio de um igual, mas não se refere a sexo. A vantagem que temos é poder ter o amor definido por Platão e prazeres com uma pessoa que sabe como lidar com o nosso corpo, pelas semelhanças.


Expostas as vantagens, gostaria que os leitores que responderam 'sim' à enquete tentassem enxergar por uns segundos esse mundo de possibilidades que vocês tem o privilégio de pertencer e ter motivos para se aceitar melhor e lutar pelo que você é.


Sem mais.
Um abç e bom fds =)

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