segunda-feira, 19 de março de 2012

Sobre olhares e gritos em público

Faz tempo, eu passei pela Praça Sete de Belo Horizonte numa tarde bastante movimentada de um dia de semana, saindo de um McDonald's - percebe-se o meu vício em fast foda food nessa altura... Por lá, vi um casal de gays se abraçando e se beijando no meio da multidão, esperando o sinal para atravessar a rua.
Para quem não conhece BH, a Praça Sete é uma esquina bem no coração do comércio popular da cidade, um cruzamento de duas das mais famosas avenidas daqui: a Afonso Pena e a Amazonas. Obviamente, encontram-se por lá populares como escritores anônimos de blogs, clientes da tele-sena, do Baú da Felicidade e pessoas que colocam nos seus Fiats Unos os letreiros com os dizeres "Presente de Deus', o que para mim é de extremo mau gosto. Enfim.
Eu fiquei olhando as pessoas olharem o casal e previ que um barraco estava para acontecer a qualquer momento, mas ninguém ofendeu os dois. Se por um lado muitos olharam, alguns apenas desviaram o olhar e começaram a andar assim que o sinal de pedestres ficou verde. Apenas reparei duas mulheres conversando sobre como aquilo era estranho, mas poderia ter sido muito pior como se alguém gritasse 'viados desgraçados'.
Talvez as pessoas tenham tanto medo de criticar estranhos diretamente e em público quanto de serem criticadas. Ou será que as pessoas sabem respeitar a individualidade em público apesar de seus preconceitos?
Meh, inocência. O comportamento de massas humanas é bastante semelhante ao de animais de rebanho. Naquele momento o efeito manada estava engatilhado: se alguém começasse uma repreensão, outros se manifestariam também, especialmente pelo tipo de gente que passa pelo local (sem ofensa aos cliente do baú da felicidade, mas com isso quero dizer que são pessoas de baixa instrução, e isso por si só desencadeia uma séria de comportamentos padrão).
Isso me fez pensar se eu teria coragem de fazer o mesmo com meu namorado. Quando saímos, percebo olhares, mesmo que não troquemos carícias em público, mas que por enquanto não me incomodam. Andamos como amigos e às vezes a vontade de tocá-lo é tão forte que um dia rolou um abraço e uma mulher ficou me encarando por isso. Ou será porque ela achou bonitinho que dois 'amigos' expressassem seu afeto assim com tanta naturalidade? Vai saber...
Gostaria de saber dos senhores se, como casais ou avulsos, já sofreram algum tipo de repreensão pública e se tocariam nos seus companheiros quando a vontade não fosse controlável e o ambiente não fosse favorável, como fez esse casal que presenciei. A impressão que tenho é que a repreensão pública, que talvez seja um dos maiores medos de gays, não ocorre muito frequentemente. Também porque não presencio muitos casais gays pelas ruas, mas os poucos que vejo são quasi-quasi ignorados, com exceção dos olhares - ou estou sendo eu inocente de novo?
Um abç.
N.B.

fonte: A vida no armário

Nenhum comentário:

Postar um comentário